sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Resenha do Filme Desmundo


Mais uma vez tem-se uma significativa contribuição da literatura para a história tradicional, que nem sempre consegue revelar com riqueza de detalhes aspectos dessa história. O filme Desmundo (2003), de Alain Fresnot, homônimo da obra de Ana Miranda, retrata a realidade do Brasil de 1570. Nessa época, desbravadores portugueses tinham a missão de explorar a recente descoberta, dominar o povo gentio e estabelecer produção. O filme explora várias questões acerca do contexto da época como(linguagem, religiosidade, sexualidade, obediência, fidelidade), que serão focalizadas, principalmente, na narrativa da personagem Oribela, uma das órfãs que são trazidas de Portugal numa caravela, enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de se casarem com os cristãos portugueses que ali se encontravam. Através dessa personagem nos deparamos com o universo da existência feminina, da religiosidade, do amor, da sexualidade. Todos esses sentimentos estão arraigados na personalidade dela e nos permite conhecer as estruturas mentais construídas culturalmente à época, uma vez que a sua voz ressoa outras tantas vozes, que por sua vez reproduzem os discursos normativos e impositivos da época, seja da igreja, seja da sociedade patriarcal. A mulher deveria ser obediente a seus esposos sem apresentar qualquer tipo de comportamento desaprovável, do contrário era justificado o uso de “corretivos” ,que envolviam certos rituais com o corpo como: nunca mais deixar o cabelo solto, mas sempre atado, seja com turbante, seja trançado, não morder o beiço, afora outras atitudes que submetiam a mulher a uma verdadeira humilhação e abdicação de suas vontades e opiniões. Não mais a mulher tem domínio sobre o seu corpo e tudo que ela deve fazer tem que estar em acordo com os desejos do marido. Essas atitudes encontraram assente no discurso religioso, que determinava como deveria ser o papel feminino na sociedade, discurso esse que se tece com outros discursos similares na história. Domesticar a mulher, privando-a de qualquer liberdade era uma maneira de o homem não sofrer ameaças. A própria Oribela internaliza e reproduz as vozes do discurso religioso, de Francisco, da velha e de tantos outros a revelarem como ela deveria se comportar. Nota-se, entretanto, um profundo embate entre o que ela ouvia e aquilo que se recusava a aceitar. A passagem em que a Velha prepara as jovens para o casamento próximo, ditando as cautelas que devem tomar e como serão suas vidas a partir de então, revelando o aspecto atemporal daquelas circunstâncias faz com que Oribela revolte-se diante de tantas interdições a que seria submetida. Prostar-se em oração com os joelhos sobre milhos, ferindo-os até sangrar, configura-se como uma penitência poderia livrá-la do purgatório eterno. Outro traço bastante marcante no filme diz respeito à questão da linguagem e as representações figurativas que nele são estabelecidas. Em Desmundo a linguagem tem papel representativo nos discursos que aparecem na história. Ela revela, por parte de quem as usa, as posturas impositivas, audaciosas, resignadas, reveladoras que acontece à época. Para isso recorre-se ao léxico, com o uso de palavras dicionarizadas ou não, como no caso de Oribela, para revelar a situação “sem norte” em que a personagem se encontra. O uso do prefixo de negação “des” na formação de palavras como “Desmundo”; “desrumo”, que não fazem parte da língua oficial , e outras, como em “despejado lugar”, terras desabafadas, “desventura” demonstram o caráter “purgatório” daquele lugar. Esse fenômeno lingüístico leva a se estabelecer comparação ao que Guimarães Rosa ilustra em suas obras, ao utilizar as palavras nem sempre dicionarizadas, mas que criam significância na realidade, de acordo com o uso que se quer fazer delas. Outro aspecto interessante em relação à linguagem diz respeito ao uso de metáforas e de antíteses no romance. O simbolismo que tem algumas passagens como “O dobrar ou não os joelhos (membro do corpo) pode revelar a autoridade sobre o corpo, mas não sobre a alma e o coração; estes não se dobram e não se permitem ser domesticados ou desvendados. Esta metáfora nos posiciona em dois aspectos relativos à mulher que deveriam ser domesticados: a alma e o corpo. As antíteses são outro recurso de que faz uso Ana Miranda semelhantemente à Guimarães Rosa, o contraditório surge em mundo X Desmundo; boas mulheres X putas e regateiras (o próprio ‘desmundo’ contraditória à idéia de “mundo” ) e “torna inevitável a comparação com os protótipos de mulher da época estabelecidos pela sociedade colonial: o da santa mãezinha e o de mulher sem qualidades e que tanto ameaçou o projeto de colonização.” Convém falar sobre a mescla de tantas variedades lingüísticas em terras brasileiras no período e que revela a existência de várias culturas no país e estabelece, também, conflitos sociais como a tentativa de aproximação entre esses mundos. Apesar de aparecerem alguns termos indígenas no filme, eles se restringem à tentativa de comunicação entre Temericô e Oribela e nos revela o choque entre as culturas, que são desiguais, onde o dominador prevalece e expurga o dominado, como se pode constatar hoje, com o desaparecimento de inúmeras línguas indígenas.



Resenha de autoria da Cursista_ Francisca da Chagas Gabriel da Silva da DRE- RE

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Raízes do Brasil_ Um retrato da Colonização e suas Heranças



Os fundamentos da formação histórica do brasileiro se encontram em suas diversas acepções na obra de SBH, Raízes do Brasil (1936). Esse processo, cujas conseqüências evidenciam-se na tentativa de implantar uma cultura européia, no Brasil colônia, foi mais devastador do que se imagina.
Partindo da idéia de cultura, que etimologicamente seria um conceito derivado de natureza, (Eagleton, 1943) vê-se a razão do título da obra “Raízes do Brasil” de onde brotam as bases de nossa cultura instintiva na negação da cultura encontrada pelos colonizadores. Historicamente associada a uma atividade, cultura de colere (latim), denotava qualquer coisa, desde cultivar e habitar a adorar e proteger. Sem este significado “habitar” evolui do latim colonus para o contemporâneo “colonialismo” de modo que o início de uma cultura se dá no momento da habitação de uma terra.
O Brasil já habitado, no séc. XVI, passou por um processo de “desculturação” com a imposição de uma cultura européia, totalmente avessa a tradição indígena já instituída milenarmente.
Na tentativa de ser fiel a dicotomia instituída em toda obra de SBH, será estabelecido, inicialmente, um diálogo entre Raízes do Brasil e Desmundo, filme de Alain Fresnot (2003), que também traz imagens fascinantes e fiéis do Brasil-Colônia em suas “raízes”. Esse diálogo será abandonado tão logo se avance ao séc. XVII e a realidade social do país trazida por SBH. O filme é ambientado no Brasil – Colônia (1570) e a essa época se limita à obra de Alain Fresnot, impedindo que avance junto a análise do livro.
As características ibéricas da metrópole herdadas e plantadas no Brasil - Colônia, que explicam fenômenos comportamentais do brasileiro atualmente, como a forte ausência do principio de hierarquia a exaltação do prestígio pessoal com relação ao privilégio e a repulsa pelo trabalho regular.
A colonização do Brasil se deu pelo homem aventureiro, espanhóis, portugueses e ingleses, sentido este da palavra ‘aventureiro’, aquele que busca novas experiências, acomoda-se no provisório e prefere descobrir a consolidar.
A adaptabilidade do português em meio ao desleixo e certo abandono há presença desse espírito aventureiro no filme Desmundo. A escravidão e o trabalho forçado dos índios são demonstradores da oposição do Português ao trabalho físico. Há ausência de valores e princípios, mesmo religiosos, presentes no filme e aqui tratado por SBH como tradicionalismo cultural. há sede de exploração da terra sem grandes esforços. Há ausência de técnica de lavoura sendo um sinal de atraso frente à busca pela riqueza como bem o cita SBH “O que o português vinha buscar, era sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho” (in pag. 49).
Foi justamente aqui que acharam, ao desbravar o nordeste brasileiro, terra de boa qualidade e propícia para a lavoura da cana-de-açúcar, sem esforços, o problema do trabalho resolveu-se com a escravidão do negro após frustrada tentativa de domesticação do indígena.
SBH refere-se também a uma possibilidade de colonização holandesa, no Brasil, que em oposição aos portugueses tinham espírito de empreendimento metódico e coordenado e capacidade de trabalho e coesão social. Mas dentre estes foram recrutados justamente a escória holandesa para ocupar o Brasil e não possuíam intenção de criar raízes na terra, somente fugiam de perseguições em sua terra. Sendo frustrada essa instituição da “alta Europa”.
Os portugueses também possuíam uma ausência de qualquer orgulho de raça, como se vê em Desmundo, eles iniciam uma miscigenação com índios e negros, que ironicamente é combatido pela Corte Portuguesa com o envio de órfãs para desposarem os colonos. Com o objetivo de “branquear” a raça que aqui surgia, fica implícito, no filme, que essa mestiçagem era um fenômeno esporádico que só ocorria na colônia, mas segundo SBH, esse fenômeno era presente em Portugal a ponto de haverem relatos da época sobre essa intromissão de mulatos e mamelucos em grande quantidade na Metrópole.
Todos esses declínios se fixaram ao longe de nossa formação como sociedade. Tais marcas estão presentes no processo de transição do Brasil rural a urbano. Com o declínio da escravidão tenta-se moldar o país a uma democracia burguesa, que leva a economia brasileira, tipicamente escravocrata, a sua primeira crise em 1864. Em um país patriarcalista por tradição, com uma civilização de raízes rurais, as formas de vida copiadas de nações socialmente mais avançadas não encontraram sucesso.
Esse caráter patriarcalista, em que se formou o brasileiro, que foi adquirido na estrutura familiar, com berços rurais, foi tão poderoso que ao familiar era atribuído autoridade, respeitabilidade, bem como obediência e coesão entre os homens. Essa herança predominante, na vida social, e que deu origem ao “homem cordial”, deixou marcas significativas em nossa sociedade.
Esse momento de transição para o surgimento do Estado, faz renascer no brasileiro a errônea idéia de que esse modelo de relações do núcleo familiar serviria de exemplo para as relações externas. Resquícios dessa contribuição de fundo emotivo se vêem na “cordialidade do brasileiro” tão aclamada pelo estrangeiro. Em Raízes do Brasil é esclarecido que essa cordialidade aparente está longe de significar civilidade sendo simplesmente uma “máscara” contra o Rito Social. Como bem o cita Antônio Candido (1967) “O homem cordial não pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva, inclusive suas manifestações externas, não necessariamente sinceras nem profundas, que se opõem aos ritualismos da polidez”.
E assim se configura a nossa sociedade brasileira, fundada em tais valores aparentes, e que permeará desde os nossos saberes intelectuais até as nossas relações de trabalho. O Brasil se configurará de profissionais liberais que, permitirão manifestos de independência individual, e de saberes de fachada. Dando origem ao nosso exibicionismo, improvisação e a falta de aplicação seguida, esta com a voga do positivismo no Brasil.
Nesse ponto, SBH torna sua obra de uma atualidade impressionante, já em 1936, ele aponta a “nossa revolução” iniciada com o processo de dissolução da velha sociedade agrária, como uma forma de liquidar o passado, adotar o ritmo urbano e propiciar a emergência das camadas oprimidas da população, únicas com a capacidade para revitalizar a sociedade e dar um novo sentido à sociedade brasileira.
Esse Livro é um dos estudos mais relevantes com uma das melhores abordagens da história social do Brasil-colônia até os dias de hoje. Revela-nos às nossas origens e as heranças presentes em nossa sociedade. È assim uma visão ampliada da formação dos nossos problemas atuais.

Erla Delane

GESTAR II

O programa Gestão de Aprendizagem_ Gestar II, voltado para as áreas de Língua Portuguesa e Matemática é uma iniciativa do Ministério da Educação para o ano de 2008-2009.
O Gestar II é destinado aos professores que atuam nos anos-séries finais do Ensino Fundamental da rede pública e objetiva a formação continuada ampla pelo aprofundamento teórico-metodológico para que sejam alcançadas melhorias nas práticas pedagógicas.
O foco do programa é a atualização dos saberes profissionais por meio de subsídios e do acompanhamento da ação do professor no próprio local de trabalho. Sendo que a sua proposta pedagógica baseia-se na concepção sócio-construtivista do processo de ensino-aprendizagem. Assim aluno e professor constroem juntos o conhecimento em sala de aula, por meio de uma relação interdependente, apoiada no interesse e na participação do professor como mediador entre os alunos e o conhecimento social e historicamente construído.
Esta resenha visa apresentar o material didático do Gestar II, orientado para a formação dos professores ajudando-os a compreender o ambiente escolar como um espaço de pesquisas e descobertas permanentes sobre o processo de ensino-aprendizagem.
O objetivo maior dos cadernos de teoria e prática (TP) e de atividades de apoio à aprendizagem (AAA) é possibilitar ao professor de L.P de 5ª. e 8ª. séries( 6º. ao 9º. Ano) um trabalho que propicie aos alunos o desenvolvimento de habilidades de compreensão interpretação e produção dos mais diferentes textos.
Na área de L.P os TPs se constituem em 6 cadernos nos módulos I e II. O módulo I é constituído por 3 cadernos de teoria e prática onde são discutidos conceitos como variação lingüística, texto, intertextualidade, gramática, arte e literatura, gêneros textuais e a forma como esses conteúdos podem e devem estar nas salas de aulas dos 3º. e 4º. Ciclos.
O TP1 trabalha o texto e as variantes da língua como decorrentes da relação entre linguagem e cultura. Nas quatro primeiras unidades que constituem a 1ª. parte do TP1, os textos estão ligados aos temas família e escola em diferentes abordagens. Junto a teoria, existe em todos os cadernos ainda, uma seção destinada a prática em sala de aula com sugestão de atividade para realizar com os alunos, seções de aprofundamento e um resumo de cada seção além de sugestões de leitura e bibliografia.
Todos os cadernos são constituídos de mais duas partes: Lição de Casa e Oficinas. A primeira é destinada a escolha de uma atividade sugerida no TP para desenvolver com os alunos e fazer um relato da experiência, entregar para o formador e compartilhar na oficina com os outros cursistas. As Oficinas serão realizadas ao final das unidades pares, em que formador e cursistas se reúnem para retomar as questões da prática pedagógica dos dois conteúdos das unidades estudadas.
Os conteúdos dos cadernos de Teoria e Prática são: Linguagem e Cultura (TP1), Análise Lingüística e Análise Literária (TP2), Gêneros e Tipos textuais (TP3), Leitura e Processos de Escrita I (TP4), Estilo, Coerência e Coesão (TP5) e Leitura e Processos da Escrita (TP6).
O cursista ainda terá os cadernos de Atividades de Apoio à Aprendizagem (AAA) que foram elaborados a partir dos cadernos de Teoria e Prática e são compostos de oito aulas, cujo ponto de partida é o texto e que podem ser aplicadas em sala levando-se em conta, na sua escolha, o nível da turma.
O material didático do Gestar II aqui especificado, em sua composição, subsidia na teoria e na prática o sucesso esperado desse programa de formação continuada dos profissionais da Educação, que estão em sala, por vezes, convivendo com baixos índices de aprendizagem e sem o devido apoio para reverter a situação.


Erla Delane

Uma Aliança de Aprendizagem


Os Encontros do Curso ALFA com as cursistas, nas manhãs e tardes das quintas-feiras, foram momentos de superação, aprendizagem mútua, troca de experiências no trato das concepções discutidas, tais como: Variação Linguística, Texto, Leitura e Ensino de LP, Produção de Texto, além de momentos de recriação de conceitos e formas de trabalhar tais propostas em sala de aula.

Estive sempre muito motivada a buscar o máximo de informações, textos, estudos sobre os assuntos pertinentes e principalmente sugestões interessantes porque sentia uma grande receptividade das cursistas em absorver, acrescentar e crescer como profissionais e pessoas.

Sentia, a cada encontro, uma confirmação e satisfação imensa por ter decidido aceitar esse trabalho de tutoria este ano.

Encontrei nas minhas cursistas características que admiro muito: são profissionais comprometidas, ávidas por conhecimento e que sabem aproveitar as oportunidades oferecidas e que se comprometem efetivamente em fazer o seu trabalho da melhor forma possível.

Gostei particularmente, dos momentos em que compartilharam e reconheceram os trabalhos das colegas, quando demonstraram estar inteiradas dos assuntos dos fascículos, dos textos sugeridos por elas e da interação teoria e prática que conseguiram fazer muito bem e demonstrar com resultados de seus trabalhos em sala de aula.

É claro, que nem tudo foram "flores", nos deparamos com entraves em nossos caminhos, que atrapalharam o andamento de planejamentos e comprometeram, por vezes, o aprofundamento necessário de alguns assuntos. Mas, na maioria dos momentos, tirávamos tudo isso de "letra", nos adaptávamos as condições oferecidas e concluíamos da melhor forma possível o que havíamos inciado.

Várias vezes, eu falava em sala, "há pedras no meio do caminho e agora?", mas elas respondiam: "Vamos tirá-las, todas, juntas e nenhuma delas conseguirá nos deter".

E foi isso que nos trouxe até aqui...

A União, a Vontade, e a Determinação...

Muito Obrigada à todas as minhas cursistas, ás formadoras maravilhosas da EAPE e aos Professores da UnB. Foi essa aliança de cooperação, troca de experiências e conhecimentos que permeou todo o meu ano de 2008 e darão frutos, certamente, belos frutos, não só agora, como futuramente e em toda a minha vida profissional.
Erla Delane

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Jonas Ribeiro e André Neves "Palavra e Imagem"




Grande Encontro com o ilustrador André Neves e o escritor Jonas Ribeiro.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Manejo da Palavra na Leitura e na Escrita

Um encontro encantador, fonte de inspiração às pessoas que o prestigiaram. Só mesmo essas palavras definem o que foi estar, na última quinta-feira, na Escola Parque, para assistir ao Encontro de Lucília Garcez e Margarida Patriota.
Elas trouxeram à tona suas experiências pessoais e pedagógicas sobre a importância da Leitura. Aqui, peço licença para parafrasear a Eliana Sarreta " Cada texto ocupa uma parte do corpo que temos". As escritoras compartilharam os seus processos de formação como leitoras, Lucília Garcez mostrou quão fundamental e determinante foi a "liberdade" que possuía para selecionar e acessar o que gostava de ler. A facilitação desse acesso livre à leitura, permeou suas lembranças e ajudou a torná-la uma leitora voraz. Margarida Patriota nos proporcionou o prazer de conhecer várias partes do mundo, sem saírmos do lugar. O seu contato com uma diversidade cultural existente na sua infância e adolescência, devido às sucessivas viagens de sua família, abriu sua experiência de leitora de outros mundos.
A importância da leitura efetiva foi o norte desse Encontro. O incentivo à leitura efetiva é primordial ao sucesso na escrita efetiva. É válido ressaltar que a prática de leitura deve estar próxima à prática da escrita. E que o exercício daquela, leva ao aperfeiçoamento desta.
Num país em que, segundo pesquisa IBOPE citada por Lucília Garcez, se lê 4 livros por ano, a defasagem no nível de leitura se explica estatisticamente e nos alerta para um grande problema constatado. É escasso o acesso do brasileiro a textos escritos!
O que nos faz levantar sérios questionamentos:
  • Onde origina-se essa falha?
  • Quais as consequências sociais desse problema?
  • Qual a responsabilidade da escola e do professor?
  • Quais as possíveis intermediações para a reversão desse quadro?

Aqui me retiro e deixo esses pontos para refletirmos e consequentemente produzirmos futuras e decisivas mudanças.

Erla Delane

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa

Não é de hoje que os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa(CPLP) pensam em unificar as ortografias de nosso idioma. Os trabalhos da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa tiveram início em 1980 e consumiram dez anos de negociações até o acordo ortográfico ficar pronto. No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o texto em 1995, mas sua implementação ficou "na gaveta", à espera da aprovação pelos parlamentares de Portugal. Agora, basta um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que a nova grafia entre em vigor no país(a previsão é que isso ocorra em 2009).

Mesmo sem o decreto presidencial, a Comissão de Língua Portuguesa(Colip), do Ministério da Educação, já propôs que a reforma entre em vigor no próximo dia 1º de janeiro. Estima-se que o período de transição para a nova norma dure três anos.

Se a proposta do MEC for cumprida, todos os textos produzidos a partir de 2009 terão de ser impressos segundo as novas regras linguisticas(uma delas é o fim do trema). Vestibulares, concursos e avaliações poderão aceitar as duas grafias como corretas até 31 de dezembro de a2011. Quanto aos livros didáticos, deve haver um escalonamento. A partir de 2010 os alunos de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental receberão os livros dentro da nova norma- o que deve ocorrer com as turmas de 6º ao 9º ano e de Ensino Médio, respectivamente, em 2011 e 2012. ( Texto da Revista NOVA ESCOLA, edição especial. Manual da Nova Ortografia , São Paulo. Agosto,2008)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Memorial II_ Descobrindo o "meu" Livro.

Mas foi somente ao ler Cem Anos de Solidão que entendi pois," é só lendo despretensiosamente que se descobre o 'Seu livro'". Havia descoberto o meu livro aos 22 anos. Lia vorazmente e então senti necessidade de relê, mais do que ler. Reli a história dos Buéndia, e então vi que não era o mesmo Livro, havia mudado o sentido, então reli o surgimento de Macondo e me extasiei com o novo livro que descobri. Não me atentei, naquele momento, mas havia feito uma descoberta, que só hoje estou relatando nesse Memorial e na qual não teria pensando não fosse este, "reler é melhor que ler". Foram releituras que me ajudaram a descobrir que uma obra literária não está completa, ou seja, ela não está formada, está a espera de sentido, esse quem o dará é o leitor...

E nós, também estamos a espera de um sentindo, e esse, muitas vezes, vem na leitura de um bom livro...Respostas são encontradas...Novas formas de pensar a vida...

Relendo vejo um certo sentimentalismo, nesse Memorial, tentei modificar, mas não pude, perderia sua essência, minha essência, pode parecer patético, sei que às vezes sou, mas não encontrei palavras diferentes para exprimir minhas experiências pessoais com a leitura que me trouxeram até aqui.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Memorial_ Descobrindo a Leitura

Pensar em quando decidi enveredar pelos caminhos da leitura é rememorar a minha infância e lembrar dos meus primeiros contatos com a literatura, aqui tomo a liberdade de chamar "literatura", os gibis infantis, as histórias de Cordel que meu pai contava em casa e os textos didáticos que já á época me encantavam, mas que logo inventava um significado, até saber o verdadeiro e muitas vezes ficar decepcionada.
Esse contato inicial, da descoberta do prazer "leitura" foi só evoluindo com o passar dos anos letivos. Os primeiros livros que ganhei, Polyana, Meu Pé de Laranja Lima, Éramos Seis, dos quais tenho nítida a imagem da emoção que me causou essas leituras, como eu me identificava com as personagens, seja Zezé que só tinha como amigo um pé de laranja lima com o qual conversava e chorava as "surras" que levava da mãe, ou D. Lola, que eu achava que era a minha própria mãe? Lutadora, sempre cuidando dos filhos, trabalhando e muito bondosa, ou Polyana, a menina órfã criada pela tia, que me fazia agradecer por ter mãe e temer sua perda. Quando penso em Leitura, remeto-me sempre a essas primeiras experiências que marcaram muito e que me preparam para as leituras futuras...
Havia uma ânsia por escrever algo, e eu sempre sublimava, lendo, quando pensava em escrever e não sabia por onde começar, corria para a Biblioteca da escola e "atacava" os Mitos, Perseu, O Minotauro, Eros e Psique, ou mais tarde a Literatura Brasileira, Vidas Secas, confesso que Machado de Assis demorou a me encantar, só na Graduação pude entender o porquê! E questionei muito por que os professores não direcionavam a leitura da obra Machadiana a partir de seus contos, bem mais interessantes para a faixa etária adolescente? E assim conheci várias estórias ainda mais inimagináveis e sentia que não podia escrever nada, ainda não estava preparada. Li e pouco escrevi. Isso sempre me intrigou.Como surgiam as idéias, as estórias, a inspiração de um escritor? Em que momento aparecia aquela "Lâmpada" sobre sua cabeça e decidia escrever uma obra?
Já na graduação, observei que apesar de ter lido muito(pelo menos era isso o que eu achava) não havia lindo nada. Foi um choque, ouvir nomes com Oscar Wilde, Edgar Alan Poe, Karl Marx, Camões, Foucalt, Borges, Garcia Lorca, Noll, Florbela, Flaubert, Balzac e tantos outros de quem não havia lindo nada, e os clássicos? então corri atrás do tempo perdido(ou ainda não chegado). Li, li e li. E a sede de ler mais, nunca era saciada e sempre havia muito mais a ler e entendi a frase de Sócrates quando lhe preparavam a cicuta e ele tirava uma ária da flauta. E lhe perguntaram:_Para que lhe servirá essa ária? Ao que ele respondeu:_ Para aprender essa última ária antes de morrer. Era por isso que sempre gostei de ler, para aprender aquilo que o livro tinha para me oferecer e que poderia me trazer alívio imediato da busca em que me empreendia...