Pensar em quando decidi enveredar pelos caminhos da leitura é rememorar a minha infância e lembrar dos meus primeiros contatos com a literatura, aqui tomo a liberdade de chamar "literatura", os gibis infantis, as histórias de Cordel que meu pai contava em casa e os textos didáticos que já á época me encantavam, mas que logo inventava um significado, até saber o verdadeiro e muitas vezes ficar decepcionada.
Esse contato inicial, da descoberta do prazer "leitura" foi só evoluindo com o passar dos anos letivos. Os primeiros livros que ganhei, Polyana, Meu Pé de Laranja Lima, Éramos Seis, dos quais tenho nítida a imagem da emoção que me causou essas leituras, como eu me identificava com as personagens, seja Zezé que só tinha como amigo um pé de laranja lima com o qual conversava e chorava as "surras" que levava da mãe, ou D. Lola, que eu achava que era a minha própria mãe? Lutadora, sempre cuidando dos filhos, trabalhando e muito bondosa, ou Polyana, a menina órfã criada pela tia, que me fazia agradecer por ter mãe e temer sua perda. Quando penso em Leitura, remeto-me sempre a essas primeiras experiências que marcaram muito e que me preparam para as leituras futuras...
Havia uma ânsia por escrever algo, e eu sempre sublimava, lendo, quando pensava em escrever e não sabia por onde começar, corria para a Biblioteca da escola e "atacava" os Mitos, Perseu, O Minotauro, Eros e Psique, ou mais tarde a Literatura Brasileira, Vidas Secas, confesso que Machado de Assis demorou a me encantar, só na Graduação pude entender o porquê! E questionei muito por que os professores não direcionavam a leitura da obra Machadiana a partir de seus contos, bem mais interessantes para a faixa etária adolescente? E assim conheci várias estórias ainda mais inimagináveis e sentia que não podia escrever nada, ainda não estava preparada. Li e pouco escrevi. Isso sempre me intrigou.Como surgiam as idéias, as estórias, a inspiração de um escritor? Em que momento aparecia aquela "Lâmpada" sobre sua cabeça e decidia escrever uma obra?
Já na graduação, observei que apesar de ter lido muito(pelo menos era isso o que eu achava) não havia lindo nada. Foi um choque, ouvir nomes com Oscar Wilde, Edgar Alan Poe, Karl Marx, Camões, Foucalt, Borges, Garcia Lorca, Noll, Florbela, Flaubert, Balzac e tantos outros de quem não havia lindo nada, e os clássicos? então corri atrás do tempo perdido(ou ainda não chegado). Li, li e li. E a sede de ler mais, nunca era saciada e sempre havia muito mais a ler e entendi a frase de Sócrates quando lhe preparavam a cicuta e ele tirava uma ária da flauta. E lhe perguntaram:_Para que lhe servirá essa ária? Ao que ele respondeu:_ Para aprender essa última ária antes de morrer. Era por isso que sempre gostei de ler, para aprender aquilo que o livro tinha para me oferecer e que poderia me trazer alívio imediato da busca em que me empreendia...
4 comentários:
Querida Erla,
Em tuas palavras fica nítida a tua vocação e a paixão por "aprender-ensinar". Acho que teu blog está no caminho certo, que é expressar essa relação e inspirar os teus pares....
Sei que teus projetos são sempre um sucesso porque além de se doar, você os realiza com paixão.
Um Beijo Grande,
da tua fã,
Dayne
Isso mesmo! Nunca será tarde para ler mais e mais, porque o encantamento é contínuo.
Belo texto.
Patrícia Vieira
Erla,
Seu memorial é encantador. Ele flui tão naturalmente e tão verdadeiramente que nos faz ter vontade de escrever um igual... Várias leituras que vc fez também fiz, quase na mesma ordem!!! Éramos seis foi o primeiro a me emocionar muito, a me deixar com muito medo de perder minha família. É a antiga e eterna função da arte: catarse e mudança... Obrigado por dividir com todos nós sua trajetória, seu entusiasmo, sua sede por conhecer, descobrir, ensinar...
Citando Sócrates também, um ícone da Educação: "Quando descobri todas as respostas, mudaram-se as perguntas". E, para fechar, uma citação presente em Saramago, no livro divino Ensaio sobre a Cegueira: "Se podes olhar, vê; se poder ver, repara".
Um grande abraço!
Dioney
Adorei! Parabéns. Não se preocupe com a arte de escrever. Ela chegou de uma maneira tão suave que você nem percebeu.
Amplexos,
Josselita.
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